*Descrição da foto: Primeira com a última página da edição de fim de semana do jornal Zero Hora nos dias 4 e 5 de maio de 2024 destacando o Centro de Porto Alegre, às margens do Rio Guaíba, alagado após as fortes chuvas no primeiro fim de semana de maio. A foto é de André Avila.
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*Por Luciano Amorim.
O Rio Grande do Sul está passando por uma catástrofe climática da história jamais vista. Desde o último final de semana de abril, as fortes chuvas atingiram (e continuam atingindo) o estado brasileiro provocando mortes e estragos em várias cidades. Quase 90% dos 497 municípios gaúchos foram atingidos pelos temporais. Mais de 2,1 milhões de pessoas foram afetadas. Mais de 615 mil fora de casa - sendo 538,2 mil desalojadas e 79,4 mil pessoas em abrigos. De acordo com a Defesa Civil (até o horário desta postagem*), o número de mortos chega a quase 150. Outros 112 estão desaparecidos e pouco mais de 800 feridos.
A região metropolitana de Porto Alegre é uma das mais afetadas. O Rio Guaíba passou dos 5 metros (duas vezes) e superou a marca de 83 anos atrás, em 1941, quando o nível alcançou 4m76cm - antes da construção do sistema de contenção. A cheia atingiu o centro histórico, a área dos estádios do Grêmio e do Internacional e até o Aeroporto Internacional Salgado Filho (POA) que teve voos suspensos por quase um mês - até 30 de maio. No Eldorado do Sul, toda a cidade está inundada pelo Rio Jacuí, na região do delta, onde acaba desaguando no Guaíba.
*Descrição da foto: Primeira-página do Diário Gaúcho do dia 10 de maio de 2024 destacando a imagem aérea da cidade de Eldorado do Sul alagado após as fortes chuvas. A foto é de Jeferson Botega.
Na margem oposta à da capital, na cidade que tem o nome do rio homônimo, o bairro mais populoso acabou evacuado. Os alertas de evacuação foram emitidos em Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo. No Vale do Taquari, o nível do rio homônimo superou as enchentes de 1941 e de 2023. Em Muçum, moradores tentam se recuperar da terceira enchente em menos de um ano - assim como em outras cidades da região. As águas dos rios Taquari, Caí, Pardo, Gravataí e Sinos escoaram para o Guaíba, até chegar, lentamente, à Lagoa dos Patos, invadindo alguns locais da área de Pelotas e Rio Grande.
A situação é dramática. Enquanto algumas pessoas se deslocam para o interior e litoral porque algumas cidades enfrentam falta d'água e energia, outra parte das pessoas não querem sair de casa por medo de roubos e saques.
O impacto da destruição é incalculável. A retomada da indústria no Estado é perspectiva de incerteza, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul. As inundações do Estado, o 6º maior PIB do país segundo IBGE, afetam mais de 80% da economia local. Em Porto Alegre, pequenos mercados relatam dificuldades na oferta e preços elevados dos hortifrutis que estão ruins e escassos. Os reflexos serão sentidos quando o nível dos rios baixarem, mas serão sentidos também no restante do país. Analistas ouvidos pelo G1 dizem que a destruição de lavouras de soja no Estado, o segundo maior produtor no Brasil, pode encarecer frango e porco, além do óleo. E devem causar alta de preços de alimentos, segundo a Fecomercio.
Para os meteorologistas, os eventos climáticos que aconteceram em pouco mais de dez dias no Rio Grande do Sul são reflexo de, ao menos, três fenômenos que ocorrem na região, agravados pelas mudanças climáticas. Em dez dias, o volume da tempestade foi (e continua sendo) esperado para o ano todo. Um evento raro, fora da estatística, que desafia as médias históricas. A tragédia climática no Estado está associada a correntes intensas de vento, a um corredor de umidade vindo da Amazônia, aumentando a força da chuva, e a um bloqueio atmosférico, devido às ondas de calor.
Durante a semana passada, houve uma melhora, mas no último final de semana, voltou a chover e seguiu até o início desta semana com uma melhora. Mas poderá chover até este fim de semana causando muita preocupação na situação dos rios que só voltarão ao normal na primeira quinzena do mês de junho. Além da onda de frio às vésperas do Inverno - que começa no mês que vem com o Solstício.
Em meio a incertezas, a solidariedade move iniciativas de doações dentro e fora do Brasil. O ex-participante da 24ª edição do Big Brother Brasil (da TV Globo), Matteus Amaral (gaúcho da cidade de Alegrete), mobilizou uma campanha considerada a maior solidária do Estado, ultrapassando a meta de R$ 60 milhões e aumentou para R$ 80 milhões. Em Porto Alegre, a jornalista e comunicadora Gabriella Bordasch está na linha de frente (desde o início) arrecadando doações, comprando itens de necessidade dos abrigos e prestando contas em seu perfil do Instagram.
Instituições de todo o país se mobilizam para ajudar populações afetadas pelas enchentes. Para Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB, em seu artigo publicado na edição do jornal Zero Hora da última terça-feira passada (7) - na página 26 da edição #20981 do impresso, "a Casa Comum está em crise! A humanidade está em crise!" E os gaúchos "estão sofrendo as consequências dessa terrível crise". E "não há outra saída senão a solidariedade". Porque, nas palavras do Cardeal: "a solidariedade é testemunho de que é possível superar os desafios. E o nosso povo (gaúcho) é bom! A reciprocidade é muito arraigada."
Por outro lado, a enxurrada de notícias falsas nos últimos dias atrapalham o trabalho do resgate e ajuda, trazendo insegurança no momento em que a população gaúcha mais precisa. Além de golpes e fraudes. Os órgãos de comunicação confiáveis estão checando as ‘fake news’, enquanto a justiça gaúcha e nacional estão investigando e combatendo a disseminação.
É difícil expressar, da minha parte, o que está acontecendo por lá nas últimas duas semanas. Mas uma imagem chamou atenção. Na manhã da quarta-feira passada (8), o Globocop registrou um cavalo em cima do telhado em Canoas. A imagem feita do helicóptero que presta serviços para o jornalismo da TV Globo (e foi transmitida ao vivo na GloboNews) comoveu o país, nas redes sociais e virou repercussão internacional. No dia seguinte, o animal foi resgatado. A imagem do 'Caramelo' virou símbolo de resistência e um sopro de esperança em meio ao caos.
Em meu nome, expresso votos de MUITA FORÇA ao Estado do Rio Grande do Sul e ao seu povo. Aos familiares e amigos das vítimas da tragédia, à minha - total e irrestrita - solidariedade. Às autoridades locais e nacionais, espero que tomem as providências após o desastre climático. E que o Estado, o sexto mais populoso do Brasil, possa se reerguer e superar as dificuldades! Afinal, parafraseando a canção composta pelo gaúcho Leonardo - e também de Jader Moreci Teixeira, é o Estado de 'Céu, Sol, Sul'. E também de 'Terra e Cor'. Pois 'onde tudo o que se planta cresce', porque 'o que mais floresce é o amor'!
*Com informações de Zero Hora, Portal GZH (Zero Hora e Rádio Gaúcha), Correio do Povo, G1 RS, MetSul Meteorologia, Rádio Itatiaia, O Globo (Rio de Janeiro, RJ) e Agência Brasil.
*Atualizado às 22:00 UTC-2 de 14 MAI 2024.